sábado, 2 de maio de 2009

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Completava oitenta anos. Levantou-se cedo e ficou fitar o seu reflexo no espelho por um longo período, sorriu um sorriso amarelo e desceu para o café da manhã.
A comemoração começou no almoço, com todos os filhos e netos presentes e com os amigos restantes. De presente surpresa seus filhos, músicos, assim como o pai, haviam preparado uma pequena apresentação, iam tocar uma composição do aniversariante (a favorita dele, que tinha feito anos atrás pra sua esposa), uma música que não ouviam há 20 anos.
No inicio da música o velho até tentou sorrir, mas o ritmo novo que seus filhos impunham o deixou mal-humorado. “Se queriam estragar alguma música minha que estragassem, mas não essa”- pensava o velho, agora, ainda mais velho. Ao notar a insatisfação do pai os músicos pararam de tocar. O velho levantou-se e caminhou até eles, tomou o atabaque do filho mais velho. Segurou o instrumento com aquele ar ranzinza de quem sabe das coisas, sentou-se e numa batida forte ditou o verdadeiro ritmo da música. Batia rápido como se tivesse mais de duas mãos
Mas ao término da canção devolveu o atabaque ao filho e dirigiu-se ao seu quarto com uma leve expressão de satisfação e seus costumeiros passos cansados.

3 comentários:

  1. Imaginei o velho como richard feynman ( http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_feynman )
    gostei do texto de hoje ter sido menos melancólico, eu já estava o suficiente...

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  2. Quando eu era moleque gostava de desafiar os mais velhos, mostrar que eles não sabiam de tudo.

    Agora, com 26 anos, odeio quando moleques me desafiam.

    Imagine com 80...

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  3. O velho parecia bater verdades no atabaque, às que no almoço todos tentavam esconder.
    O bom da música é que a gente pode ser mal educado e falar o que quiser no som.

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