sexta-feira, 24 de abril de 2009

Um dia a memória assaltou meu corpo sem avisar, “esses olhos são aqueles”... lá no fundo do espelho eu vi o mesmo tom que a idade parecia ter roubado, “quem diria, ainda há um pouco daquela doçura em mim, ou pelo menos uma vontade!”

— João, faz favor!
— Claro.
— Meus olhos ainda se parecem com o céu?
O velho colocou seus óculos e olhou concentrado para os olhos daquela senhora que tão bem conhecia:
—Não, o céu não é mais tão azul.







nota:http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2009/03/12/poluicao-reduziu-azul-do-ceu-nos-ultimos-30-anos-754812966.asp

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Caffè Macchiato

Encontraram-se acidentalmente na cafeteria, sentaram-se na mesma mesa e tentaram dizer alguma coisa, mas o que saiu foi um “há quanto tempo!” quase simultâneo, ele sorriu enquanto ela corou. Alguns segundos desconcertados.
-Expresso como sempre?
Ricardo deu uma risada leve antes de responder – às vezes tomo um cappuccino, mas só quando vou naquela cafeteria que costumávamos ir. – Mais uns segundos desconcertados, dessa vez mais ele do que Camila (que de certa forma parecia triunfante)
-Nunca mais fui lá. ...ainda toma sem açúcar?
-Só coloco açúcar quando o café está intragável, o que não é o caso. Eu estou estranhando é você tomando um café simples ao invés do usual caffè macchiato.
-O último que tomei não foi tão bom...
-Hmmm, onde foi?
-Na cafeteria que freqüentávamos, no dia em que terminamos – Dito isto ela virou seu café como se fosse uma dose de cachaça e levantou-se, e só quando estava na porta, quase saindo, disse – Bom te ver! Espero nos encontrarmos mais vezes. – Ricardo fez um leve gesto com a mão entre um tchau e sinal de espera, mas ela já tinha saído.
Depois da saída dela, enquanto terminava seu café, essas coisas passaram pela cabeça dele “ela conseguiu estragar duas cafeterias de uma vez só e eu dou um murro desgraçado pra achar uma que preste, agora nem essa nem a outra”, mas ele sabia que volta e meia retornaria a elas.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O velho e o amor

Era como se não usasse chapéu,
Entrou pela casa lhe arrancou o véu.
Falou que era brasa

E era como se fosse rapaz
Entrou feito vento
Interrompendo a paz
E foi forte, nobre, lento.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

42

“Eu já tenho 42 anos”, ele disse. Quarenta e dois! Minha nossa! Desde que eu me lembro meus pais tinham 30 anos, quer dizer meu pai 31 e minha mãe 30 (sei que ele é mais velho que ela um ano). Lembro-me perfeitamente de responder num questionário qualquer de escola, aos 6 anos, que meus pais tinham 30... Até então isso nunca tinha mudado.
Era manhã quando eu o ouvir dizer isso, por volta das 9hrs, eu que levava um copo de café à boca estacionei-o no meio do caminho, assustado por assim dizer. Quando eu achava q eles tinham 30, tinham menos, muito menos, o que quer dizer que muito mais de 12 anos se passaram e eu não percebi. Não quero nem pensar com quantos anos estou.