quarta-feira, 1 de julho de 2009

Vem aí bom tempo, o pescador me confirmou.

Morava sozinho, numa casa velha que ficava numa dessas vilas antigas (que, hoje em dia, praticamente não existem mais). Sua senhora havia falecido há pouco tempo, pouco mais de um mês, ele tornou-se recluso, passou a sair pouco e pegou a mania de ficar no escuro à noite, nem a televisão ligava. Seus filhos almoçavam com ele todo domingo, mais por se sentirem obrigados do que por vontade própria (até porque não fingir preocupação com um senhor de oitenta e quatro anos...).
Sentava-se todos os dias na varanda, sempre no mesmo horário. E assim que se aprumava na sua cadeira de balanço: chovia! Antes sentava-se ali com sua mulher para conversar. Agora deixava-se observar a chuva por longo tempo, as vezes passava horas imóvel sem desviar os olhos do céu e sou rosto assumia uma expressão mais branda e menos triste. Os vizinhos diziam: “seu Pedro deve ter esclerosado de vez, ninguém em perfeito juízo fica olhando chuva por tanto tempo!” ou então “Coitado! Desde que dona Matilde se foi ficou assim meio aluado” ou ainda os mais jovens balançando a cabeça ”Todo dia esse velho maluco sai na hora da chuva”.
Num dia um dos moradores da vila, uma jovenzinha que havia herdado a casa da sua avó, notou que não estava chovendo na “hora da chuva”, saiu de casa e deparou-se com céu que nunca vira, um arrebol belíssimo ocupava o horário da chuva. E a cadeira do seu Pedro estava vazia.

3 comentários:

  1. :~

    Não sei se é pela situação parecida que estou vendo meus avós passarem, mas me emocionei.

    Beijo

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  2. O tempo fica de luto quando morre quem o entende.

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  3. Eu amo a chuva.
    Jogo bola com ela, pulo corda, canto e brinco com meus filhos.

    Acho que ela também gosta de mim.
    Fica escondida, como se me esperasse, só pra poder me molhar...

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